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Positividade tóxica: saiba como lidar com a pressão por ser feliz em tempos de crise

De uns tempos para cá, frases como “devemos buscar sempre a parte boa das situações”,” ver o lado cheio do copo’”, “não nos deixar abater pelas ‘emoções ruins’” (ou tantas outras similares) têm sido mantras cada vez mais presentes na vida das pessoas, não é mesmo?

Não tem nada de errado em ser positivo, mas quando isso se torna nocivo a ponto de o indivíduo não se permitir ficar triste, sentir raiva ou medo, pode ser um caso da tão comentada positividade tóxica.

Mas o que é positividade tóxica? Batizado por especialistas, se trata de um fenômeno em que as pessoas passam a negar as emoções impostas como negativas. Algo potencializado pelas redes sociais, tão presentes na vida das pessoas e um ambiente em que pouco (ou nunca) é permitido ser vulnerável, feio ou inseguro.

Este conceito ficou ainda mais em voga nestes tempos de pandemia. Afinal, a luta das pessoas para se manterem positivas, felizes e otimistas em um cenário desolador ficou ainda mais opressiva.

Para entender como chegamos até aqui, nesta situação de debater e jogar luz em uma positividade que de tão exacerbada acaba fazendo mal para os indivíduos, é preciso refletir sobre algumas questões. Vamos lá!

Mas porque ser positivo passou a ser um problema e não uma solução?

De acordo com a psicóloga e mentora de desenvolvimento de pessoal e carreira, Ana Clara Mendes, o medo, a tristeza, a raiva e a alegria são emoções básicas do ser humano que precisam ser sentidas. Ela explica que a noção de que uma emoção é boa ou ruim é algo imposto para os indivíduos desde crianças e isso nos acompanha e molda a forma como vamos lidar com as emoções na vida adulta.

“Todas as emoções, em milhões de anos de evolução, vieram de um processo de adaptação que a espécie humana foi vivendo e nós só as sentimos hoje porque elas, de alguma forma, são necessárias para nossa sobrevivência”, ressalta a especialista.

No caso da alegria, foco da positividade tóxica, ela explica que uma pessoa em seu ápice de tentar ser alegre (ou demonstrar isso para os outros) se distancia do seu centro, da sua essência, e beira a euforia.

Por isso, a psicóloga coloca que o caminho do equilibro para todas essas emoções é a melhor alternativa. Ou seja, medo, tristeza, raiva e alegria na medida certa não fazem mal a ninguém, afinal, elas são sensações passageiras, naturais e necessárias.

“Na nossa natureza, o movimento é de rejeitar o que é dito como negativo e perseguir o que é dito como positivo. A grande questão é que isso foi falado para nós desde sempre: que a alegria é boa e o medo, a tristeza e a raiva são ruins”, comenta Ana, que ressalta que as pessoas desejam pertencer a grupos e, para isso, não querem ser associadas a sentimentos tidos como ruins pela sociedade.

Para ela, a positividade tóxica tomou uma proporção maior devido às redes sociais, tendo em vista que foi por meio delas que as pessoas puderam começar a falar sobre esses assuntos e ‘viralizarem’. “Nestes espaços, ninguém quer parecer vulnerável ou mostrar os piores ângulos. Só postam o que convém ou aquilo que vende”, complementa.

Como fica esta questão em meio ao cenário pandêmico que vivemos?

“Vejo pessoas que estão em um movimento de buscar autoconhecimento, entrar em contato com o que estão sentindo, acolher suas dores e curar suas feridas, mas têm muita gente que continua na fuga”, argumenta a psicóloga, frisando que o fato de fugir dos sentimentos é uma forma de adoecimento da pessoa.

A especialista explica ainda que no início da pandemia houve um cenário de cobrança do tipo: “agora você não pode mais reclamar que não tem tempo para estudar, se conhecer, ficar com seu filho ou aprender uma habilidade nova. E isso trouxe uma pressão muito grande”. Mas que, na sequência, já foi substituído por discursos e postagens nas redes socais normalizando as emoções que vieram com a pandemia, como a falta de energia, o medo, a tristeza ou a raiva. Para ela, um meio eficaz nos dias atuais é “aceitar que você está mal e que irá buscar mudar isso, ao invés de buscar uma felicidade que é ilusória ou irreal”.

Com tantos estímulos, como não cair na armadilha da positividade tóxica?

Libertação emocional é o caminho, na opinião da especialista. “Primeiro, parar de julgar emoção como boa ou ruim, como certo e errado, e entender que isso faz parte da natureza humana e que você não controla suas emoções”, explica Ana Clara, completando que uma forma interessante de se libertar é você entender como aquela emoção te afetou, trabalhando suas reações em relação a ela.

Em meio a tantos obstáculos, como manter o otimismo na busca por oportunidades de trabalho e emprego?

Não dá pra ignorar que, com a pandemia e outras crises que o país atravessa, muitas pessoas perderam seus trabalhos e empregos e tiveram que lidar situações difíceis nos últimos anos.

Sobre como se manter positivo (na medida certa) e otimista nesses casos, a princípio, Ana Clara esclarece que “otimismo não é um estado de espirito, mas uma ferramenta que nós conseguimos desenvolver”. Segundo ela, o otimista é aquele capaz de enxergar um problema e buscar uma solução.

Assim, no caso de o problema estar relacionado à busca por oportunidades de emprego, é preciso ser manter confiante, focando em buscar parcerias e contatos ou desenvolver habilidades e talentos que são demandados no momento, enquanto tenta uma colocação no mercado. Mas sem cobranças excessivas e padrões inalcançáveis, ein?

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