Respeito

24 expressões racistas para tirar do seu vocabulário

“Mulata”, “Dia de branco”, “A coisa tá preta”: você conhece ou usa essas expressões? Certamente, sim!

A nossa linguagem faz parte de uma construção que, em boa parte, é cultural. Por isso, as expressões e ditados que utilizamos costumam datar de longo tempo.

Pela mesma razão, muitas vezes são expressões que surgiram na época do Brasil Colônia e da escravidão. Assim, são fruto de falas e costumes preconceituosos, racistas e que reafirmam a discriminição e inferiorização do povo negro.

Mas, afinal, por que retirar essas expressões do vocabulário significa combater o racismo?

Se você é branco, é fácil pensar que, como a língua é mutante, o fato de uma expressão ter nascido racista, não faz com que quem a usa seja racista.

A questão é que o buraco é mais embaixo. Essa é uma avaliação superficial e errônea acerca do que engloba a compreensão desses termos e sua retirada do vocabulário falado e escrito.

Para quem – ainda – não se deu conta, a abolição da escravatura no Brasil aconteceu apenas há 134 anos. Tem noção de quão pouco tempo é isso?

Essa é uma das razões pelas quais a luta pela igualdade do povo negro é tão importante e urgente. Mais do que isso, ela gera violência, pobreza, fome e mata.

Por mais que alguns ainda insistam em contradizer, o racismo estrutural existe e está completamente arraigado na sociedade brasileira.

Ele se faz presente nas instituições, nas relações interpessoais, nos espaços de poder. Por isso, a linguagem tem um papel importante nessa luta: ela representa o reconhecimento de anos de injustiça e a abertura de espaço para uma existência digna e igualitária.

Fato é, o idioma brasileiro foi consolidado sob a influência do período escravocrata e, reafirmar tudo o que nasceu lá, é reafirmar o racismo.

Como afirma a jornalista e ativista Ana Franco,

“O racismo se manifesta inicialmente através da verbalização e a partir daí toma caminhos que se encontram com uma série de outras violências que vão minando as condições de sobrevivência do nosso povo. Estas expressões representam a manutenção do racismo na nossa sociedade e garantem a perpetuação das violências contra o povo negro. O fato dessas expressões terem atravessado séculos resistindo de maneira tão naturalizada no vocabulário brasileiro diz muito do real interesse sobre uma sociedade com discriminação racial.”.

Assim, as palavras e expressões racistas são indícios de como a opressão e o preconceito foram naturalizados na cultura, sociedade e linguagem brasileira.

Reconhecer e retirar essas palavras e expressões do seu vocabulário é, então, uma ação antirracista. Uma que pode parecer pequena, mas que pode repercutir positivamente na luta contra o preconceito.

24 expressões racistas para tirar do seu vocabulário

Confira agora uma lista com 24 expressões e palavras que você precisa retirar da sua escrita e fala:

A coisa tá preta

A expressão associa o negro a uma situação desfavorável, desagradável, difícil e até mesmo perigosa. Uma substituição simples é: a coisa está difícil!

Serviço de preto

Essa é uma expressão utilizada para se referir a um serviço mal feito, ou feito erroneamente. Porém, nela é feita a associação de que o trabalho feito pelos negros é sinônimo de um serviço mal feito e ruim. Note que a palavra preto, na frase, funciona como sinônimo de mal feito, ruim. É fácil trocar essa expressão por serviço mal feito, certo?

Denegrir

Segundo o dicionário Aurélio, denegrir quer dizer fazer ficar mais negro. Porém, o uso tradicional da palavra tem o significado de difamar, associando, assim, a ideia de tornar-se negro algo ofensivo. Algo que mancha a reputação que antes era “limpa”.

Você pode trocar essa expressão utilizando simplesmente a palavra difamar.

Cabelo ruim / exótico / de pixaim

Expressões normalmente utilizadas para se referir pejorativamente ao cabelo afro. Dá para adicionar nessa lista ainda outras como: cabelo rebelde, duro, carapinha, mafuá, piaçava…

Esse tipo de fala e referência é um dos causadores do processo de negação do próprio corpo e da autoestima, especialmente entre as mulheres negras.

Você pode se referir como cabelo afro, crespo, cacheado, desde que sem o tom pejorativo. O fato dele ter essas características não é sinônimo de ser exótico, ruim ou duro.

Ter um pé na cozinha ou ter um pé na senzala / Nasceu com um pé na cozinha ou nasceu com um pé na senzala

Uma forma racista de se referir à uma pessoa com origem negra, já que traz de volta o período da escravidão em que o local permitido às mulheres negras era exclusivamente na cozinha da casa grande. É o tipo de expressão que precisa ser removida por completo do vocabulário!

Samba do crioulo doido

No tempo da ditadura, foi o nome do samba que satirizava o ensino de História do Brasil nas escolas do país. Composto por Sérgio Porto, a expressão é debochada e costuma ser usada para se referir a uma pessoa ou situação confusa e atrapalhada. O que, na verdade, só serve para reafirmar um estereótipo de discriminação dos negros.

Não sou tuas negas

A expressão coloca a mulher negra como “qualquer uma” ou alguém pertencente a todo mundo. Além de ser racista, com origens escravocratas da mulher negra como propriedade de alguém, é carregada de machismo. Se não está evidente, que fique: não usar!

Meia tigela

A expressão tem sua origem no sofrimento dos negros escravizados, que, por não conseguirem alcançar as “metas” de trabalho, recebiam apenas metade da sua tigela de comida.

Daí surgiu o apelido de meia tigela, que logo se tornou uma expressão popular utilizada para se referir a alguém ou algo sem valor, medíocre, sem importância. Só essa lista de significados já indica ótimas substituições para tirar o termo do seu vocabulário.

Mulata

O termo nasceu referindo-se ao filhote macho do cruzamento de cavalo com jumenta, ou de jumento com égua. Hoje, contudo, é uma palavra utilizada para se referir à sensualidade, sexualidade e poder de sedução da mulher negra. O que reforça estereótipos e a objetificação do corpo da mulher negra.

Uma variação ainda pior é “mulata tipo exportação”, porque literalmente objetifica a mulher negra como se fosse uma mercadoria. Qualquer semelhança com a herança escravocrata não é coincidência! Mais um caso de uma expressão que precisa ser completamente retirada do vocabulário.

Cor de pele

É fácil pensar numa caixa de lápis de cor e saber que aquele tom clarinho e rosado é normalmente chamado como cor de pele. O fato é que essa cor está longe de representar a tonalidade da pele da população negra e não branca, e tomar esse tom como um padrão é excluir todas essas pessoas.

Da cor do pecado

Utilizada para referir-se geralmente a uma mulher negra, retinta. Além de reafirmar o imaginário da objetificação e sensualização exacerbada do corpo negro, a expressão perpetua a visão de que ser negro é sinônimo de algo pecaminoso e impuro. Já retirou essa do seu vocabulário, né?

Doméstica

Apesar do termo ter sido normalizado a ponto de fazer parte da legislação do país, ele traz consigo uma enorme carga racista.

As domésticas eram mulheres negras escravizadas que trabalhavam dentro das casas das famílias brancas por serem consideradas “domesticadas”. Ou seja, por terem passado por um processo de “adestramento”, já que eram tratadas como animais rebeldes.

Mercado Negro / Magia Negra / Lista Negra / Humor Negro

Essas e outras expressões em que a palavra negro é sinônimo de algo pejorativo, ruim, maligno, impróprio, impuro, prejudicial, devem sempre ser revistas.

Exemplos de substituições não faltam: mercado clandestino; magia das trevas; feitiçaria; lista do ódio; humor ácido…

Criado-mudo

A palavra já suscita na mente da gente algo bem específico: uma cômoda pequena que fica ao lado da cabeceira da cama, com objetos úteis que precisam ficar à mão.

O que muitos não sabem é que criado-mudo era o nome dado ao papel desempenhado pelos escravos dentro de casa: segurar coisas para seus ‘donos’.

Como esse era também um papel que deveriam fazer de forma muda e silenciosa, eles eram os criados-mudos.

Você pode substituir por mesinha de cabeceira, cômoda pequena, etc.

Barriga suja

Mais um termo que faz referência à origem da pessoa negra. É utilizado para falar de uma mulher que tem um filho negro, tornando a barriga suja, impura por causa do filho. O racismo escorre abertamente dessa expressão que precisa ser banida!

Feito nas coxas

A popular expressão também tem origem na época da escravidão no Brasil.

As telhas nessa época eram feitas de argila e moldadas nas coxas dos escravos. Assim, facilmente seu tamanho era desuniforme, porque correspondia a pluralidade de tamanho e forma das pessoas.

Com o tempo, passou a representar um trabalho desleixado, feito de qualquer jeito. E essas já são duas ótimas opções para você substituir o termo!

Crioulo / Negão

As palavras eram utilizadas para se referir aos filhos dos escravizados. É extremamente pejorativo e discriminador da pessoa negra ou afrodescendente. Cortar do vocabulário para ontem!

Tem caroço nesse angu

A expressão surgiu de um truque realizado pelos escravos para conseguirem se alimentar. Na maior parte das vezes, a alimentação era composta exclusivamente por angu de fubá, assim, eles escondiam embaixo dele pedaços de carne e torresmo.

A expressão remete à ideia de desconfiança, de algo irregular. E não tem coisa mais simples que substituí-la: tem coisa errada aqui!

Nhaca

A palavra é utilizada para se referir a um mal cheiro ou odor forte. Porém, Inhaca, de onde a palavra veio, é uma ilha de Maputo, em Moçambique, onde vivem até hoje os povos Nhacas, um povo Ban.

Assim, o uso acaba relacionando esse povo e, juntamente o povo negro, ao odor ruim. Essa é fácil fácil de tirar do vocabulário.

Disputar a Nega

Além da origem escravocrata, o termo remete à misoginia e estupro. O termo era utilizado quando os senhores de escravos disputavam algum esporte ou jogo e tinham como prêmio uma escravizada negra. Esse é para banir completamente do vocabulário!

Macumbeiro / Galinha de Macumba / Chuta que é Macumba

Todas essas são expressões que discriminam os praticantes e as religiões de matriz africana. É para deletar do vocabulário com certeza.

Preto de alma branca

Essa é uma tentativa de elogio a uma pessoa negra, fazendo referência a sua dignidade como se isso pertencesse apenas às pessoas brancas. Me poupe, se poupe, nos poupe! Uma expressão para lá de preconceituosa e racista!

Inveja Branca

Mais um termo com berço no racismo e no ideal fajuto de superioridade branca.

O termo significa uma inveja boa, que não faz mal, e, por isso, é colocada a palavra branca junto à inveja. Porque, como negro é associado ao ruim, o branco, seu “oposto”, seria associado a bondade.

Se quer usar a expressão, joga logo uma inveja boa, porque branca e boa não são nem de perto sinônimos!

Amanhã é dia de branco

Aqui a palavra branco é novamente sinônimo de algo bom. A expressão é utilizada para se referir a um dia com muito trabalho e compromisso, mas o que ela realmente quer dizer é que apenas as pessoas brancas é que trabalham muito e dão duro.

Na época da escravidão o trabalho dos escravos não era visto como um trabalho propriamente dito e o conceito acaba perpetuando preconceito e estereótipos até os dias de hoje. Diga que terá um amanhã atarefado.

Uma lista e tanto para tornar seu vocabulário menos racista. Afinal, esse é apenas um passo do que compreende ser alguém que apoia a causa antirracista. Para entender e aprender mais, confira o Guia Antirrascista da Profissas e saiba como continuar a se aprimorar e apoiar a causa!



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