Carreira

Sinais de machismo no ambiente de trabalho

Por muitos anos, mulheres de todas as idades e áreas de atuação sofreram com o machismo no ambiente de trabalho e não conseguiram, sequer, perceber o que estava acontecendo.

Às vezes velado, às vezes escancarado, essa mania irritante que alguém tem de acreditar que o homem tem mais habilidades e, por algum motivo biológico, é superior às mulheres, tem consequências terríveis para quem é a vítima. Ainda que não tenha nada de errado com a mulher, sua autoestima, autoconfiança e até tranquilidade para fazer um bom trabalho são abaladas ao menor sinal de desrespeito ou desprezo.

Portanto, se você for um homem (ou uma mulher) machista, pare já com isso: não há nada na ciência que comprove as teorias absurdas que você tem na cabeça.

Agora, se você faz parte do grupo das mulheres (e dos homens) que querem diminuir os problemas causados pelo machismo no ambiente de trabalho, aqui vão duas dicas:

  1.     Leia o livro “Faça Acontecer”, da Sheryl Sandberg, agora mesmo;
  2.     Identifique os sinais abaixo e, em caso afirmativo, procure quem pode te ajudar a resolver o problema dentro da empresa. (E, se os abusos vierem da última instância de gestão, na figura de chefe, presidente, dono da empresa, etc., a sugestão é procurar, desde já, outro emprego. Pela sua sanidade mental.)

#1 Dress code abusivo

Se a empresa é formal, homens vão usar ternos, gravatas e sapatos sociais, enquanto as mulheres tem algumas opções a mais: um terninho, um tailleur, uma saia midi, com salto alto ou salto baixo. Até aí, tudo bem, cada mercado com seu dress code.

Mas se os homens podem “relaxar” nesse dress code e as mulheres são sempre exigidas a usá-lo, inclusive com uma maquiagem impecável de incremento, tem coisa errada aí. A situação fica pior quando são exigidas roupas específicas – a maioria mostrando as pernas ou tendo decotes nos seios – para que mulheres participem de reuniões com clientes importantes.

Solução: fazer um escândalo. Se você está em uma empresa que corrobora com isso, busque imediatamente o topo da hierarquia para argumentar seu ponto de vista. Se nada mudar, saia da empresa.

#2 Demissões pós-licença maternidade

No Brasil, licença maternidade é dada a mães que acabaram de ter seus filhos – e isso inclui as mães que acabaram de ter seus filhos, mas as crianças infelizmente faleceram. A lei protege todas elas de não serem demitidas durante o período de licença maternidade, mas ainda é meio nebulosa quanto a volta dessas mulheres ao ambiente de trabalho.

O que muitos gestores pensam é que, sem trabalhar, a mulher deu “prejuízo” à empresa, porque “recebeu pra ficar em casa” e, por isso, precisa ser punida. Outros temem que as mulheres queiram engravidar de novo logo e, assim, aumentem o ciclo de trabalho passivo.

Solução: se você voltou desse período e foi demitida, procure um advogado para entender quais são seus direitos e o que pode ser feito, inclusive em esfera jurídica, sobre seu caso. Aceitar essa condição sem lutar por melhorias na lei só vai dificultar a vida de todas as mulheres economicamente ativas.

#3 Cantadas que parecem elogios

“Nossa, você está tão bonita hoje” pode ser, sim, apenas a constatação de um fato. E quem define o que a frase se parece não é quem fala, mas sim quem recebe. Por isso, é bom verificar a fonte de onde essa informação veio: se é daquele colega que é sempre desrespeitoso, arredio, que vive falando asneiras sobre assuntos diversos, desconfie da cantada, e não do elogio. E cantada pode ser considerada falta grave pelo RH da empresa.

Outras cantadas – essas menos elogiosas – podem ultrapassar todos os limites do machismo. “Você é tão bonita, mas também é tão inteligente”, ou “uma moça elegante como você deveria ser mais competente” ou qualquer outra coisa que cite a beleza física como um “mas” do atributo profissional é cantada ou desaforo, não elogio.

Solução: RH neles. E, dependendo da hierarquia entre quem faz as cantadas em você, cabe até um processo por assédio moral ou sexual.

#4 Receber interrupções e explicações óbvias

Você está falando e aquele colega homem te interrompe no meio do raciocínio, seja para repudiar sua ideia, seja para roubá-la, seja para explicar a coisa mais óbvia do mundo, que é claro que você e todas as outras pessoas no recinto já sabem? Machismo.

Aliás, o homem machista anda adorando explicar tudo para as mulheres porque elas não são capazes de entender nada sozinhas. Exemplo: “você só está assim porque está de TPM – e, na TPM, seus hormônios ficam um pouco descontrolados… vai passar”. Obrigada por me ensinar isso, gênio.

Solução: na hora em que vir uma interrupção chegando, fique firme no seu discurso. No máximo, diga: “um minuto, por gentileza, vou concluir meu raciocínio”. E, quando a explicação-óbvia-porque-mulheres-tem-dificuldade-de-entender, não precisa ser polida. “Obrigada por me ensinar isso”, com alta carga de ironia, vai mandar o recado.

#5 Piadinhas sobre TPM

Você não pode mais se emocionar, estar nervosa, ser chata, querer espaço, querer sossego ou qualquer outra coisa sem que, por trás, exista sempre a piadinha da TPM.

Foi firme em uma reunião? Está de TPM.

Acordou de mau humor? Está de TPM.

Não quer conversar sobre coisas que não fazem sentido pra você? Está de TPM.

O problema não é estar de TPM (afinal, essa condição existe e muitas pessoas sofrem muito com o período), mas sim relacionar qualquer reação sua com a condição biológica de estar com os hormônios malucos – coisa que, aliás, só acontece com mulheres.

Aí, ou você já tem um problema de fábrica, que é ser mulher e, por isso, ter TPM, ou suas emoções são injustificáveis se você não estiver nesse período tenebroso do mês. Do jeito que for, é machismo.

Solução: estando ou não na TPM, não aceite nenhuma piadinha sobre suas condições emocionais. Se ocorrer, RH neles.

#6 Salários menores para as mesmas funções

Você trabalha oito horas por dia na mesma função que um colega homem mas descobriu que ele ganha mais do que você? Isso só não é machismo como, também, fere o código 461 da CLT, que diz que pessoas com a mesma função devem receber exatamente o mesmo ordenado.

Nesse caso, ou a empresa está agindo de má fé ou é machista, o que, no fim das contas, dá no mesmo. Qualquer tentativa de explicar a discrepância salarial é besteira. Do mesmo jeito, se vir que está se candidatando a um cargo para o qual os homens estão pedindo salários maiores, são menos qualificados profissionalmente que você e, mesmo assim, a empresa negociar seu valor em termos de igualdade, ela está sendo sexista. E isso também fere a CLT.

Solução: não fique em uma empresa que não te valorize por suas habilidades profissionais – mas não saia sem antes conversar com um bom advogado sobre esse lance de você receber menos que um colega da mesma função. Quanto mais as empresas tiverem que responder em juízo por seus atos completamente errados, menos elas estarão dispostas a ir por esse caminho.  

 

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