Carreira

Do mundo VUCA ao BANI: a importância das hard e soft skills

Presenciamos a convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas, a automação tende a ser incorporada em larga escala. O mundo, cada vez mais preocupado com os efeitos das mudanças climáticas, apoia o investimento em energias limpas. Paralelamente, o conceito VUCA (volátil, instável, complexo e acelerado) já está obsoleto, pois vivemos em uma fase de transição para o mundo BANI (frágil, ansioso, não linear e incompreensível), que exige adaptações no ambiente corporativo.

Precisamos, então, desenvolver nossas hard e soft skills se quisermos sobreviver em um mercado onde a tecnologia, a conectividade e a infinidade de informações avançam desenfreadamente em todos os setores: indústria, agronegócio, saúde, entre outros.

O que são hard e soft skills?

Hard skills são competências técnicas como graduação, pós graduação, curso de idiomas, SAC, Excel, Word e cursos técnicos. Soft skills são habilidades comportamentais ligadas ao relacionamento interpessoal no ambiente profissional, como capacidade de trabalho em equipe, inteligência emocional, comunicação empática, resiliência, criatividade, liderança e pensamento crítico.

Antes, os funcionários eram avaliados apenas pelas hard skills. Posteriormente, as corporações passaram a valorizar também as soft skills. No entanto, ainda existem empresas que perseguem as competências técnicas e pecam por deixar de lado as habilidades comportamentais. E, mais cedo ou mais tarde, acabam se arrependendo por suas escolhas.

Se por um lado é necessário investir em talentos que sejam fluentes no inglês, dominam softwares, possuem certificações; por outro, é primordial apostar as fichas em colaboradores que tenham qualidades como visão estratégica,  pensamento crítico, boa gestão do tempo, autonomia, entre outras, que geralmente são desenvolvidas com o tempo de atuação no mercado, ou seja, com o amadurecimento profissional.

Hard skills no mercado

A pandemia de Covid-19 antecipou algumas tendências e intensificou outras. Os exemplos mais emblemáticos são: adoção do home office e da educação online; crescimento dos cursos à distância; expansão do e-commerce e dos Omnichannels; migração para o digital; utilização de aplicativos, inteligência artificial, automação, realidade virtual, realidade aumentada, realidade mista, robotização. Acrescento à lista a preocupação com a segurança sanitária e com os efeitos das mudanças climáticas.

Querendo ou não, as transformações no modo de vida influenciam diretamente os ambientes de consumo e trabalho. Não é à toa que as áreas mais promissoras estão relacionadas à Tecnologia, Saúde, Qualidade de Vida, Desenvolvimento Pessoal e Profissional, Sustentabilidade, Recursos Humanos, Direito, Infraestrutura, Marketing Digital e Finanças.

É inquestionável que, mais do que nunca, precisamos investir em novos conhecimentos. Saem à frente profissionais que dominam a Tecnologia da Informação. Por isso é fundamental desenvolvermos capacidades técnicas na área. As funções mais requisitadas no momento são computação em nuvem, inteligência artificial, capacidade analítica, gestão de pessoas e design de experiências.

De acordo com um levantamento da plataforma Catho, as vagas no setor de tecnologia cresceram até 671% em 2020. Em São Paulo, os cargos que mais tiveram ofertas de vagas foram cientista de dados, desenvolvedor.NET, devOps, web developer e programador.

O mundo BANI e as soft Skills

O conceito BANI, apresentado pelo futurista e antropólogo Jamais Cascio, reflete a sociedade do mundo atual. A pandemia provocou uma reorganização rápida em diversos setores. A FRAGILIDADE está presente em todas as áreas: na agricultura, no meio ambiente, na saúde, na educação, nas empresas.

Vivemos em um sistema frágil, que pode ser quebrado a qualquer momento. A presente conjuntura exige resiliência, colaboração e diversidade em várias esferas (equipe, produtos, serviços e modelos de negócios) e, até mesmo, parcerias com concorrentes.

A ANSIEDADE ocorre em função da falta de controle diante da sensação de impotência, medo e insegurança. O mundo ansioso, atormentado por expectativas ainda não realizadas, como retomada econômica, vacinação em massa, segurança nas relações humanas e no ambiente de trabalho, deixa no ar a sensação de que toda escolha pode ser catastrófica, o que nos leva a dois caminhos: passividade ou desespero. E, para lidarmos com isso, precisamos, mais do que nunca, trabalhar a empatia e a autoempatia, para criarmos caminhos para a cocriação, e assim projetarmos um futuro mais positivo.

O NÃO LINEAR se desenvolve à medida que não há conexão entre causa e efeito, em um contexto onde os resultados das ações podem ficar totalmente desequilibrados e pequenas decisões resultam em enormes consequências, que podem ser boas ou ruins. Diante disso, torna-se fundamental rompermos barreiras, estabelecermos parcerias, reaprendermos e sermos mais flexíveis e adaptáveis.

A INCOMPREENSIBILIDADE se dá a partir do momento que as coisas passam a não ter lógica aparente e, mesmo diante de informações adicionais não temos a garantia de melhor compreensão. Pasmem, mas, mais dados, até mesmo o Big Data, podem ser contraproducentes, sobrecarregando nossa capacidade de entender o mundo, devido ao excesso de informações.  Então, para lidarmos com a falta de compreensão e para conseguirmos navegar em meio à tanta inconsistência, precisamos desenvolver capacidades como transparência, ética, intuição, experimentação e aprendizado.

Identificando e desenvolvendo habilidades técnicas e comportamentais

Líderes podem incentivar tanto as habilidades técnicas quanto as comportamentais de seus colaboradores. As hard skills são identificadas por meio do mapeamento dos funcionários, avaliações de desempenho periódicas, entre outras metodologias. Para acelerar o desenvolvimento das competências técnicas, as empresas devem oferecer treinamentos e incentivos à busca de formação (certificações, graduações, pós graduações, novos idiomas, cursos, etc.). Além disso, as corporações têm a opção de inserir suas equipes em intercâmbios, congressos, palestras, feiras e workshops, para que seus empregados troquem experiências e adquiram mais conhecimento em sua área de atuação.

As qualidades comportamentais também podem ser detectadas por meio de mapeamento dos colaboradores. Existem diversas formas de desenvolver as soft skills dos times, que vão desde o reconhecimento e estímulo aos profissionais de maior destaque e o incentivo ao bom relacionamento entre os setores de uma empresa, até o fomento do senso de colaboração em equipe, e educação corporativa, que inclui eventos, dinâmicas, treinamentos, reuniões, happy hours, campeonatos, atividades ao ar livre e gamificação.

Noto que, apesar de autonomia ser uma das principais soft skills requeridas no mercado, no Brasil, a maioria das empresas ainda não oferece autonomia às suas equipes de trabalho. Não são raros os colaboradores que não tomam decisões próprias para beneficiar suas corporações, porque dependem de uma hierarquia superior que, por sua vez, é subordinada a uma gestão engessada.

Mas nem tudo está perdido, pois existem negócios que dão autonomia aos seus funcionários. Deixo um exemplo citado no prefácio brasileiro de “Empresas Humanizadas – Pessoas, Propósito, Performance”, de Raj Sisodia, David B. Wolfe e Jag Sheth. Escrito por Jayme Garfinkel, presidente do Conselho da Porto Seguro, o texto relata uma enchente ocorrida por volta de 1990 em São Paulo, que deixou inúmeros carros submersos no Vale do Anhangabaú.

Como a água demorou para baixar e os guinchos tiveram que esperar para retirar os veículos dos segurados do local, o coordenador do resgate da companhia, ao perceber que levaria muito tempo para a retirada dos carros, enviou pizzas para motoristas da seguradora, segurados e proprietários de outros veículos que não tinham vínculo com a empresa. Foi uma decisão isolada, mas acertada por parte do funcionário da Porto Seguro.

Competências podem ser desenvolvidas

A obra “Empresas Humanizadas” relata, ainda, o exemplo da Nissan, que transformou colaboradores sem experiência e simples em funcionários altamente qualificados. Em 2003, a corporação inaugurou sua fábrica em Canton, Mississipi, um dos estados mais pobres e menos industrializados dos Estados Unidos, incorporando mão-de-obra não testada, em sua maioria inexperiente, mas, mesmo assim, a fábrica ofereceu um salário quase duas vezes maior do que a média local. Como consequência, a unidade alcançou um dos mais altos índices de qualidade do mundo.

Os exemplos da Porto Seguro e da Nissan deixam claro que, tanto hard quanto soft skills podem ser desenvolvidas. De acordo com o livro Hidden Value: How Great Companies Achieve Extraordinary Results with Ordinary People (Valor Oculto: Como Grandes Empresas Alcançam Resultados Extraordinários com Pessoas Comuns), de Charles O’Reilly, em companhias com uma cultura em que colaboradores têm posse psicológica, até mesmo funcionários médios podem trazer bons resultados. Fica evidente que tudo é uma questão de aprendizado, então, que tal fazer a diferença e investir na educação do seu time?

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