Vida

Como – e porque – desplanejar 2021

Se o ano fosse uma partida de futebol, já estaríamos nos acréscimos de 2020 – e, pelo visto, o resultado é um empate. Alguns vão dizer que esse foi um ano que não aconteceu, enquanto outros vão jurar de pés juntos que foi uma etapa de muitos aprendizados.

Não importa pra qual desses times vai a sua torcida, o juiz vai colocar na súmula do ano que, em 2020, todos nós concluímos, em uníssono, que tentar planejar o futuro não é uma das melhores ideias que geralmente temos quando o calendário volta à estaca 0.

A essa altura do campeonato, é vital entender que existe uma grande diferença entre traçar metas e alcançar metas, e o não alcance pode não ser fruto de um fracasso pessoal, mas de algo fora do nosso controle que nos empaca.

Sim, acontece.

Você viu de camarote que não é sempre que dá pra prometer, na virada do ano, que vai diária e religiosamente à academia, mas também percebeu que coisas que você não tinha no seu radar são tão interessantes, ou mais, do que as que você tinha planejado. Um curso online, por exemplo, ou começar um projeto pessoal de pintura.

Tudo aquilo que adiamos por falta de tempo caiu por terra em 2020. Se você não está nas linhas de frente de trabalho essencial, o que mais teve nesse ano foi tempo. Então, antes que o juiz apite fim de jogo, também dá pra refletir sobre o que não foi feito por pura falta de interesse.

Já tira isso da sua listinha de metas de 2021.

As vantagens do desplanejamento

O que estamos sugerindo, aqui, não é que você deixe de traçar metas para o futuro, mas que trabalhe em cima de objetivos mais pessoais do que universais, digamos assim.

Por exemplo: se o mochilão pela América do Sul ou Europa ainda está incerto em 2021, porque isso depende mais dos governos do que de você, que tal juntar um pouco mais de grana enquanto aguarda a vacina e a abertura segura das fronteiras?

Participar de maratonas não vai rolar, mas isso não significa que você não possa encontrar horários e locais seguros para tentar bater seus próprios recordes…

O mesmo vale para a famigerada meta dos exercícios físicos/projeto carnaval (que não vai rolar, desculpa): desplaneje aí ir à academia e planeje contratar um personal online que te ensine a se exercitar em casa para os devidos resultados.

Sei que parece piegas, clichê até, mas a verdade é essa: desplanejar 2021 é muito mais sobre se preparar para surfar nas ondas que virão do que fingir que não somos ávidos por um planejamento. Se for mais fácil, tenha como principal meta ser antifrágil. Não tem pandemia capaz de exaurir por completo uma pessoa que é flexível – como a água. 😉

Tá bom, mas como fazer isso?

Vamos lá:

Entenda seus limites

Entender os limites não é só saber o que você dá conta de fazer ou não, mas compreender que, por enquanto, há coisas que não poderão ser feitas. Ponto. Seus limites para 2021, a princípio, são: não viajar para o exterior, não lotar o auditório para uma palestra presencial, não organizar um casamento para janeiro.

Alguns limites dependem única e exclusivamente de você. Aprender a fazer lasanha, por exemplo. Outros, como os listados acima, não são da sua alçada. E o que você faz com eles? Nada. Nem se preocupe. Não há nada a se fazer, então relaxe e rearranje suas prioridades.

Foque na organização

Muitos de nós tiveram que adaptar a sala de casa como local de trabalho em 2020, e uma grande parcela desse grupo ainda precisou dividir o espaço com maridos, filhos e pets. Resultado final: um pandemônio.

A boa notícia é que você já sabe o que não fazer durante a pandemia: não marcar reunião na hora do almoço dos filhos, não achar que só você vai precisar de internet em horário comercial, não fingir que a louça na pia vai se lavar sozinha.

Em 2021, tenha como objetivo melhorar sua organização familiar e/ou residencial para ter uma experiência melhor de home office. Afinal, não sabemos direito quando é que poderemos sair dele…

(ou se vamos querer, verdade seja dita.)

Aprenda a meditar

Na virada do ano de 2019 você pode ter pensado: em 2020 serei mais saudável, mais centrado, terei a mente mais leve… aí o ano veio como uma retroescavadeira só para mostrar o óbvio: não há nada mais prioritário que saúde mental. Sem ela, tudo entra em ruínas.

Uma das melhores formas de tentar manter o equilíbrio – nem só viver de pessimismo e nem só viver de jogo do contente – é aprender a meditar.

A chave para não desanimar está em começar do começo, e não achando que você já é um monge budista. Faça cinco, dez minutos de meditação por dia. Aprenda a respirar corretamente e a olhar pra dentro. Aumente seu tempo de dedicação à prática conforme se sentir confortável.

Geralmente, meditar traz benefícios comprovados no controle à ansiedade e angústia, tão típicas desse 2020; mas, se não fizer tão bem assim a você, mal não faz. Vale a tentativa.

Fabrique sua energia

Quando a pandemia começou, muita gente sugeriu apostar as fichas na produtividade, no tempo útil (e, talvez, no ócio) para trabalhar em projetos profissionais ou pessoais. No decorrer do ano, até mesmo o entretenimento entrou na pauta produtiva: leia X livros, veja tantas séries e filmes. O objetivo era sempre fazer, hoje, um pouco mais do que foi feito ontem.

Todas essas dicas estão repletas de boas intenções; é, de fato, muito bom se superar a todo momento. Mas cansa, né?

A melhor forma de desplanejar 2021 é não dar ouvidos às tendências, mas ao que você quer e pode fazer dentro do seu tempo. Uma coisa que aprendemos esse ano foi que, se não estamos fichados nos serviços essenciais, ninguém – absolutamente zero pessoas – vai morrer se precisarmos desacelerar um pouquinho.

O que mata, e muito, além do coronavírus, é o estresse, a depressão, as fake news sobre saúde pública, os hábitos de vida ruins, como ser sedentário, fumar e beber em excesso.

A sugestão é: faça as coisas no seu tempo, fabrique sua energia conforme os dias passam. Se hoje você não está afim de ler nada, mesmo que a meta tenha sido uma Ilíada por semana, tudo bem. Não leia nada. Se essa meta tiver que ser revista, ninguém sofrerá por causa disso.

Se nesse mês você não abriu nenhum curso online que comprou na última Black Friday, tudo bem também. Ninguém vai tirar sua estrelinha de bom ser humano por isso.

Precisando, saia das redes sociais, faça só o que te faz bem, coma fruta ou chocolate, fique uma tarde inteira de barriga pra cima. Por mais que nossos chefes, líderes ou clientes ainda queiram nos ver trabalhar em regime de horas-bunda, se 2020 nos mandou um recado foi que, com um pouquinho de organização, todo mundo trabalha e ainda cochila depois do almoço.

Bola na trave não altera o placar

Voltando à metáfora do futebol, essas sugestões não significam, necessariamente, vencer o campeonato de 2021. Há muito mais na estrada do que aquilo que a gente vê, e precisamos adaptar a nossa realidade ao ano que teremos.

É preciso compreender a prioridade – no singular, mesmo; a segunda coisa da lista não é a sua prioridade –, aceitar os limites impostos pelo ambiente externo e focar em fazer o melhor que você pode, nas condições que você tem, para equilibrar seu ambiente interno, seu eu lírico.

Pode ser que ano que vem seja melhor, pior ou igual esse ano foi. Desplanejar é, simplesmente, não aventar que isso venha ao caso. É se preparar para o que 2021 for, com a cabeça no lugar para enfrentar os desafios.

Bruce Lee dizia:

“não reze por uma vida fácil, reze pela força de enfrentar uma difícil”.

Desejo que esse seja seu mantra de Natal; qualquer coisa além disso não fará muita diferença.

 

Um abraço e até 2021,

Laís Menini

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