Vida

Branquitude: entenda qual é o seu papel na luta antirracista

A luta antirracista não é uma pauta nova que vem sendo debatida como se fosse um modismo no Brasil e no mundo. O combate à desigualdade é um processo antigo e doloroso que remonta à colonização das Américas pelos europeus, enfatizando, posteriormente, o conceito de raça, forjado por uma falsa ciência no fim do século 19.

Com isso construiu-se uma ideia irreal de superioridade branca que tem efeitos perceptíveis no cotidiano e na sociedade brasileira até hoje, fazendo deste um dos assuntos mais urgentes para a transformação social no nosso país.

Por que essa discussão é importante?

Para entendermos a profundidade da discussão étnica é preciso conceituar o termo branquitude, que, diferentemente do racismo, que é baseada na relação entre brancos e negros, acontece ao longo da longo da vida, colocando a pessoa branca uma posição de superioridade.

Nesse sentido, o primeiro passo para construirmos atitudes antirracistas é nos reconhecermos como parte do problema, identificando o racismo em pequenas e grandes atitudes que acontecem com frequência no dia a dia. Porém, não basta reconhecer a discriminação: é preciso combater as convicções e a naturalização da desigualdade.

Embora raça seja uma construção social, que não existe biologicamente, os brancos usufruem de privilégios e vantagens que vão desde ter mais facilidade de ascensão social a não receberem olhares de desconfiança ao entrar numa loja para fazer compras ou por assumir um cargo de CEO em uma empresa.

O que se percebe é que a branquitude, por uma questão de comodidade, ou por não reconhecer sua herança branca, prefere praticar a manutenção de poder, jogando no colo dos negros os problemas relacionados ao racismo. Ou seja, aos olhos da sociedade é difícil enxergar que a  pessoa branca só está em determinado lugar por causa da cor, enquanto as pessoas negras são, na maioria das vezes, despercebidas em muitos espaços.

Como o branco pode se posicionar na luta antirracista

Situações envolvendo racismo e a dita superioridade do branco são, em muitas das vezes, cobertas pela mídia, causando muita indignação. Foi o caso George Floyd, que teve sua morte filmada nas mãos de um policial branco que o sufocou com o joelho, ainda que ele já estivesse contido e não representasse nenhuma ameaça.

Mas e as ocorrências que acontecem diariamente e que são vistas como “normais”, como as piadas com cunhos racistas, o assédio moral e as críticas constantes ao tom da pele e características do cabelo?

O branco que não é conivente com essas amostras de desumanidade se questiona em como apoiar a luta antirracista e ajudar a frear situações como essas, mesmo não estando em seu local de fala.

A tão sonhada igualdade racial só será possível quando passarmos por uma transformação social. Existem muitas formas de ajudar, mas algumas dicas sempre podem ser válidas para abrir a mente para esse tema tão sensível.

Pesquisar é fundamental

Se você não entende da luta antirracista, não espere que um negro te explique os detalhes e desconstrua o racismo que tem dentro de você. Existem excelentes materiais na internet que podem te ajudar nessa mudança de pensamento.

Para se aprofundar mais no tema é possível encontrar muitos livros com temas antirracistas e escritos por negros e negras, como Djamila Ribeiro, Conceição Evaristo, Ana Maria Gonçalves e Sueli Carneiro.

Não critique a militância negra

Crítica e preconceito é o que a comunidade negra sempre recebeu. Agora, é hora de escutá-la para compreender o que a militância pede – ou melhor, demanda, dentro de seu pleno direito de fazê-lo. Por isso, não julgue os discursos inflamados, pois a luta antirracista é incessante e, quase sempre, é preciso gritar para ser ouvido.

Use seus privilégios para ajudar

Não existe racismo reverso: na sociedade, os brancos são os privilegiados – e ponto. Até para entrar em um ambiente social, infelizmente, costuma ser mais bem recebido. Ao ver uma situação de constrangimento, apoie o negro e faça valer o seu direito de, inclusive, denunciar o racismo praticado como crime.

Na luta antirracista há lugar para todos nós – e cabe aos brancos se desfazer das amarras históricas de sua branquitude e assumir a responsabilidade pela reparação histórica de extinguir o racismo. Para saber qual é o seu papel, se coloque ativamente na causa e abra espaço para ouvir o que os negros têm a dizer.

E, mais importante, não perpetue atitudes ou frases de cunho racista só “porque sempre foi assim”. Afinal, se não for pra mudar e evoluir, não há nenhum outro propósito para que a humanidade permaneça no planeta.

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